In My Head....Or Something...

Saturday, August 27, 2005

A vida é estranha. Eu ouvia eles falando enquanto olhava para a luz. Algo me dizia que eu devia passar a conviver mais com algumas pessoas e menos com o resto do mundo. E o satélite gigante que açoitava no céu, na iminência do fim, ou só expectativa de algo diferente. Fui assaltado ontem. Eu os vi chegando, e não corri. Nunca tinha sido. Um deles me falou calmamente para encostar na porta de uma casa. Havia uma faca no meu pescoço. Não consegui sentir medo. Não vinha pensando em nada, ou tentando esquecer algo. Pareceu que estávamos fazendo um negócio. Eu dava minha jaqueta e eles não davam nada. Me pareceu um bom negócio, afinal não queria minha garganta cortada. Tudo muito rápido e em instantes já estava caminhando sozinho de novo, pensando nas mesmas coisas de antes. Dei queixa, preenchi a ocorrência, tomei até um cafézinho no posto policial. Não parecia que tinha acontecido, se não fosse pela falta da minha jaqueta, que estava vestindo a pouco.

Já era de manhã, as pessoas saindo para a rua, e eu indo para casa dormir. Era sábado. E eu iria acordar e pensar no que fazer. Talvez nem ligasse a tv. Talvez comeria em silêncio e tomaria banho e olharia pro vapor e os azulejos no banheiro. Pensar em ligar para alguém, inventar algo. E o dia se faria noite de novo. Ás vezes a diferença entre o que se tenta entender, do que se consegue entender é muito, muito grande.

Friday, August 26, 2005

Haze

E como uma semente vermelha

Plantada

Se faz noite

Aqui dentro


É NECESSARIO MAIS VENENO



Eu até posso ser

O sorriso

Em você


Mas caiu de mim

O que devia guardar


É NECESSÁRIO MAIS VENENO


Pois que venham

Explosões

Divisões


Que quebre

O que não se sabe


Que amanhã seja

E não mais.


É NECESSÁRIO MAIS VENENO

Wednesday, August 24, 2005

Hunger

" É difícil

Não pensar

No que se espera


É dificil

Olhar para a cidade

e as luzes

somente


Sem Sentir


Sentir fome...

De tudo

E de nada "

Wednesday, August 17, 2005

Fazia muito calor. Ele estava na fila do banco. Havia uma televisão ligada num canto, no teto. Passava um filme dum cachorro bonzinho. No filme um garoto havia caído num rio e estava agarrado a um tronco e o cachorro estava latindo e correndo em volta do rio tentando ajudá-lo. O cara que estava á sua frente na fila do banco parecia bem entretido pelo filme.
Ele estava saíndo do banco quando encontrou uma ex-vizinha sua. Não lembrava o nome dela. Ela lhe disse que havia sido despedida. Eliana. Eliana era o seu nome. Nunca havia conversado muito com ela quando eram vizinhos. Naquela época ela morava com um cara, e ele quase nunca a via no prédio. Ela o convidou para tomar um café. Ele achou estranho, mas aceitou.
Sentaram em uma mesa num boteco próximo. Ela estava falando muito, o que era estranho pois nunca tinham trocado muitas palavras.

- Você não trabalhava com vendas?
- Trabalho em uma livraria.
- Tá morando aonde agora?
- No centro. E tu continua lá?
- Sim.

Ela começou a chorar. Em um instante sua expressão mudou. Ficava olhando para a rua. Dizia que não sentia vontade de sair de casa, que precisava de dinheiro. E repetia que não conseguia, e não conseguia, e parecia que alguém brincava com ela e que ela tinha comprado um cachorro. Ele tentou acalmá-la. Ela falava sobre o cachorro, e que um dia estava deitada no chão, e chamou o cachorro e ficou lhe perguntando porque ele não era um ser humano. E falava que não tinha ninguém. Ele olhou no relógio. Tinha que ir trabalhar. Havia pedido para a gerente para ir trabalhar um pouco mais tarde hoje, pois tinha que resolver umas coisas. Ele estava trabalhando lá a um ano já, era uma livraria pequena. Eliana havia parado de soluçar, estava com os olhos muito vermelhos. Ele lhe disse que tinha que ir trabalhar, e se despediu. Ela ficou olhando para a rua.
Havia um bom movimento na livraria e o tempo até passou rápido. O dia se foi. Foi para casa de ônibus. Chovia. Chegou em casa e foi mijar. Fez um sanduíche e sentou na mesa, na sala. A cortina da janela da sala estava aberta. Olhou para o prédio ao lado. Em uma sacada uma velha estava aparentemente imóvel,rodeada por dois gatos. Uma luz se acendeu duas janelas abaixo. Uma sala,uma mesa grande de madeira, apareceram. Fazia um mês que morava naquele apartamento,e ainda não tinha reparado muito nesse prédio ao lado. Uma garota sentou na mesa com uns livros e cadernos. Parecia estar fazendo algum dever de casa,ou estudando para alguma prova. Havia uma tevê ligada também. Imaginou que ela devia ter uns 16 anos, e parecia bonita, de longe.
O telefone tocou, ele atendeu. Era Luís,um amigo seu dizendo que ia pintar lá,no seu apê .Ele pegou um vinil, botou no toca-discos e foi até a janela.A garota tinha saído da sala e a luz ainda estava acesa. Ficou pensando no sonho que teve na noite passada,onde ele voava. Ele voava nos sonhos com frequência, mas era estranho porque ele começava a voar e em alguns instantes caía. Não conseguia manter. No sonho ele voava sob o mar, era uma imensidão de água, e ele voava rente a ele, muito rápido, e se sentia preocupado pois se caísse iria cair no meio do nada. Numa outra parte do sonho seu irmão tentava esfaquear seu pai e ele o segurava.
Luís chegou com algumas cervejas e eles sentaram na sala a beber e ouvir música.Ele era advogado, estava ganhando bem e tinha comprado um carro novo a pouco tempo. Eram amigos de infância praticamente e nunca ficaram muito tempo sem se falar, mesmo quando moraram longe um do outro.

-Cara ás vezes não sei o que dizer,não sei.
-Sobre o que?
-A Ana...ontem eu olhei pra ela na cama e disse que a amava, e fomos dormir.
-Tá e daí?
-Daí que fiquei pensando se amava mesmo,e fiquei pensando nas milhões de vezes que disse isso pra ela.A gente fala isso seguido, "Eu te amo" "Eu te amo". Não que eu não queira amar ela, mas é estranho.O que seria isso?
-Não sei, mas é bom estar com alguém que você gosta.
-Será que a gente se cansa das pessoas por nenhum motivo aparente? Quer dizer,é meio óbvio por um lado numa relação...é impossível as coisas ficarem sempre do mesmo jeito,mas eu nao quero deixar de gostar dela,nunca tive um relacionamento tão bom.
-Talvez. Acho que se tu deixar de gostar dela mesmo tu vai saber.
-É. Tu ouviu o disco novo deles?
-Ouvi.É bom, meio irregular, mas tem umas boas.
-Vou pegar outra cerveja.

Viam televisão, canais de compras, relógios de ouro, jóias, pareciam serpentes.Lembraram de algumas histórias e riram bastante. Lá pela 1 e meia Luís foi embora.Ele desligou o toca-discos e foi pro quarto.
Estava deitado na cama, olhava para o teto, para uma rachadura no canto esquerdo. A chuva havia parado. Estava sem sono.