In My Head....Or Something...

Tuesday, April 15, 2008

Há algo estranho no ar

Como podem sentir os fantasmas

Que consomem

A dor

Que aflinge a alma

Ao andar pela cidade

Em um amor rancoroso e sem paradeiro

Como uma vingança secreta

Perseguem na penumbra fria

A olhar a lua pintada

Eles eram realmente uns imbecis metidos a espertalhões. Aí está alguém que merece sofrer. Eu ri, avancei e desferi um soco reto no que estava mais próximo. O sangue começou a escorrer e ele me olhou sem expressão, talvez um pouco surpreso. Senti uma satisfação com aquilo, e continuei avançando, mas por trás de mim algum fio passou abruptamente em minha garganta. Eu continuei a olhar, e do chão pude ver uma figura sem rosto crescer em minha direção com uma foice na mão em suas calças jeans. Ele me matou. E agora minha cabeça está no lugar, e meus dentes ainda não rangem, silenciados pelo sono. Notícias de jornal, palpáveis em suas folhas sujas. O branco descascado da sacadinha de metal. Eu me apoio nela e vejo lá embaixo o piso velho e meio esburacado da área aberta do apartamento de fundos do térreo. Dois vasos de plantas, um em cada canto, me fizeram lembrar algo, mas não soube dizer o que era. Nenhuma relação com isso, ainda parece sonho. O peso leve do corpo em pé.

No banho as lajotas opacas refletem minha mente vazia , e minhas mãos me dizem que, afinal, não há fantasmas. O shampoo caindo pelo corpo, e de olhos fechados todo esse espaço não parece muito diferente. Eu gostava bastante de tomar banho quando criança. Olhava meus braços molhados refletidos na luz da lâmpada, eles pareciam raios, e lia os rótulos dos produtos apoiados no pequeno suporte. Minha toalha colorida esperava ao lado.
Agora enquanto seco minha nuca ela me chama, como o fundo dos meus olhos. Uma falta estranha de nada. Não há porque chorar, nem sorrir, a essa hora da manhã. Nem também porque levar adiante o nascimento de uma flor, nem de uma criança. Senti o cheiro do corpo lavado e me vesti ouvindo um vizinho cantar. Ele cantava alguns trechos, mas quando extendia muito, perdia a voz abruptamente, e ria.

Descendo a rua, um céu escuro e nublado paira sobre os fios elétricos,e aqui embaixo um monte de lixo aberto e rasgado na frete do prédio ao lado. As pessoas na parada de ônibus, eu tento adivinhar suas idades em seus rostos e corpos. Não sei se pareço velho ou novo para o que sinto. Não sinto o tempo passar, os dias ficam claro ou escuros. Muitos carros modernos. Visto o passado enquanto entro na padaria para comprar pão. Uma garota bem nova atende no caixa, e parece encabulada enquanto me olha de soslaio. Ela me entrega o pão enquanto um caminhão com frutas estaciona em frente.

De volta em casa, sento a mesa pra comer. Alguma coisa no pescoço, sinto quando me curvo pra passar manteiga no pão, um desconforto que dá vontade de mexer os braços e olhar para cima. A nuca me chamando de novo. Um gancho nas minhas costas. Sob a luz fraca da manhã se fez um pequeno espelho na tv desligada á minha frente. Ali estou eu, junto com a mesa, um espectro escuro, um vulto. Olho o relógio, tenho uma entrevista de emprego as dez e meia. Na sala silenciosa, o pensamento dá mais uma volta, voltando o caminho suspenso, quebrando o invisível. Preencher o único mundo, o meu, com uma cor diferente do que consigo ver. Um rádio mal sintonizado. Uma frequência fora da faixa, que me erga para além da culpa de viver dentro do que me tornei. Espalhar o meu corpo para além dos poros, para além dos pontos de ônibus, os fios elétricos, os carros, os prédios e os rostos.