In My Head....Or Something...

Wednesday, March 23, 2005

Dois

"Pedro estava sentado na cama fumando um cigarro.Estava nu e olhava para as costas nuas de Amanda,que dormia em silêncio.Passou a olhar para suas roupas,no chão e para as dela,algumas juntas das suas,emaranhadas e emboladas.Então é isso,pensou... muito da excitação da vida é isso...entrar no quarto de alguém,sabendo que daqui a alguns instantes você vai estar mergulhando dentro da pessoa,e ela em você,o calor da carne... a exaltação e o frio na barriga que se sente mesmo antes de começar.
Ana...Ana não saía da sua cabeça,desde o início do dia,caminhando no centro na chuva,ela está rondando seus pensamentos.Faz seis meses já, que não a vê,e durante esse tempo,tirando as duas primeiras semanas que foram bem difíceis,ele a esqueceu sem muitos problemas,mas hoje de alguma forma ela voltou na sua cabeça.Resolveu dar uma volta,sair um pouco,e sem acordar Amanda,se vestiu e desceu para a rua.
Caía uma chuva rala e não havia muita gente nas calçadas. Gostava de caminhar á noite, no escuro...de uma certa forma se sentia bem no escuro,na noite.Parou para acender um cigarro em frente a uma construção...o isqueiro não queria pegar,sentiu alguém atrás dele e quando foi se virar foi empurrado para a frente,caindo em cima de um carrinho de mão.Se virou e o brilho de uma lâmina sob a luz do poste,e um vulto.Não ouviu nem viu nada mais,em segundos estava lutando freneticamente no escuro.De alguma forma acabou,estava de pé respirando pesado sob a luz do poste,tinha a faca de seu agressor na mão e ele caído a sua frente,parecia morto.Se tateou, estava de blusa e casaco,foi atingido algumas vezes,mas de raspão e pegou mais as roupas.Olhou para a cara da pessoa...parecia um pouco mais velho que ele,não fazia a barba a um bom tempo,e a julgar pelas roupas e o cheiro não parecia estar vivendo numa boa condição.
Pedro jogou a faca num bueiro aberto e seguiu caminhando.Parou de chover, estava no centro, movimento,pessoas rindo e gritando,odores diversos,mesma confusão de sempre.Passou por uma esquina e viu uma prostituta,uma puta...caminhou até ela e viu que não era tão ruim de perto também.Subiram a rua até um motel no meio da quadra...era sujo e escuro,e o quarto não era muito melhor.Em um instante ela estava pelada e impaciente e não parecia tão gostosa nua...mas tinha uma bela bunda.Pegou-a de quatro e foi em frente enquanto olhava um poster da Sylvia Saint colado na parede, ao lado de um quadro de Maria...mãe de jesus.Achou engraçado e riu,e aquilo despertou uma tremenda irritação na puta.

-Dá pra você ir duma vez?
-Como?
-Já passaram dez minutos..vai duma vez.
-Calma porra,to te pagando.
-Ainda por cima nem sabe foder.

Pedro deu um soco na nuca dela,que gritou,e se virou tentando acertá-lo.Ele a bateu de novo,ela caiu no chão...e ele chutou sua cara,e depois chutou de novo.O corpo humano pode ser bem duro... pensou...parecia que chutava algo bem sólido,madeira ou concreto.Ela se grudou nele,que pegou sua garganta com as mãos.Apertou com força,depois pegou-a numa gravata até que ela parou de se debater.Deixou-a no chão.
De alguma forma aquilo não tinha chamado muito a atenção de ninguém,ele saiu...fechou a porta e caiu na rua.Passou num mercado de esquina,comprou algo pra comer e beber, e foi pra casa.Ana ,lembrou de como ela se deitava para dormir, de como ela olhava de soslaio,da cumplicidade silenciosa que havia entre eles,coisa difícil de conseguir,quando não são necessárias palavras para trasmitir os sentimentos.
Tomou banho,foi atingido por pensamentos aleatórios,lembranças de infância,o ranger das tábuas de madeira e o cheiro de massa de modelar da escolinha onde fez o maternal,caçar borboletas no verão,de uma garota linda que o quis uma vez e ele simplesmente bebeu e não chegou nela,ou o pensamento de que se morresse naquele momento será que iriam muitas pessoas no seu funeral?.Da onde vem esses pensamentos?Ele não quis pensar nessas coisas,...quem traz essas coisas?
Resolveu ligar para Ana.Ligou, ela atendeu.

-Alô?
-Olá Ana...
-Quem...Pedro?
-É...sou eu...tudo bem com você?
-Aaa...tudo...tudo bem...e você?
-É...normal...indo...e as pinturas? Tem pintado?
-Estou meio parada com isso...sei lá...sem ispiração...mas vem cá...por que me ligou?
-Bem..andei pensando em você o dia inteiro hoje...queria ver você.
-Aaaa...pois é...não sei...não sei se seria uma boa Pedro...
-Você ainda está com...como é o nome dele?
-André? não..não..não estou com ninguém...sabe engraçado...também pensei em você hoje,não tanto, mas pensei em você...uma amiga quis me emprestar o Morte a Crédito do Céline...você ainda tem aquela edição que te dei?
-Sim...está aqui...
-Certo...e seu trabalho como está?A propósito,que tu fez hoje que pensou tanto em mim?
-Ah nada de mais...só matei duas pessoas.
-Hahahahaha...ai ai...ah..hm...sabe uma das coisas que sempre gostei em você foi o senso de humor...sempre ferino hein...
-Posso ir aí? Queria te ver...
-Hm..ta bem...
-Tá...até mais...
-Até.

Ele se vestiu e saiu.Chegou lá,ela abriu a porta e voltou para o banheiro...tinha saído do banho.Pedro foi a cozinha,abriu a geladeira,pegou uma cerveja, caminhou até a sala e sentou no sofá.