A vida é estranha. Eu ouvia eles falando enquanto olhava para a luz. Algo me dizia que eu devia passar a conviver mais com algumas pessoas e menos com o resto do mundo. E o satélite gigante que açoitava no céu, na iminência do fim, ou só expectativa de algo diferente. Fui assaltado ontem. Eu os vi chegando, e não corri. Nunca tinha sido. Um deles me falou calmamente para encostar na porta de uma casa. Havia uma faca no meu pescoço. Não consegui sentir medo. Não vinha pensando em nada, ou tentando esquecer algo. Pareceu que estávamos fazendo um negócio. Eu dava minha jaqueta e eles não davam nada. Me pareceu um bom negócio, afinal não queria minha garganta cortada. Tudo muito rápido e em instantes já estava caminhando sozinho de novo, pensando nas mesmas coisas de antes. Dei queixa, preenchi a ocorrência, tomei até um cafézinho no posto policial. Não parecia que tinha acontecido, se não fosse pela falta da minha jaqueta, que estava vestindo a pouco.
Já era de manhã, as pessoas saindo para a rua, e eu indo para casa dormir. Era sábado. E eu iria acordar e pensar no que fazer. Talvez nem ligasse a tv. Talvez comeria em silêncio e tomaria banho e olharia pro vapor e os azulejos no banheiro. Pensar em ligar para alguém, inventar algo. E o dia se faria noite de novo. Ás vezes a diferença entre o que se tenta entender, do que se consegue entender é muito, muito grande.
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