Sexta
Sozinho,andando por entre as palmeiras da Osvaldo,os ônibus passando, as poças d´água refletindo neóns de bingo , uma melodia martelando a cabeça,um riff instantâneo,e a possibilidade de transpor aquilo pra guitarra.
Sentia-se cansado e entediado,a automaticidade...sair para beber,tentar apagar...com pequenas explosões passageiras de cores e sons,coisas pra se sentir...alguém....beijos e abraços...discussões.Parou para tomar uma cerveja num bar,olhava as pessoas...montes delas,olhar e olhares,quando Ângela o avistou e a chamou para sentar com ela,mais uns amigos.Ângela tinha o cabelo curto com uma franja,a pele clarinha,grandes olhos negros e covinhas,ele a conhecia a pouco tempo.Conversavam sobre música:
-É..é bom isso.
-Sim..muito...sabe,essas minhas duas bandas são as coisas que tão fazendo valer a pena essa vida.
-Certo...eu não ando com muitos motivos para me orgulhar da minha.
-Hm acontece...ás vezes a gente acorda como se não quisesse acordar.
-Vamos dar uma volta..tem um show rolando aqui do lado,é legal a banda.
-Tá bem...não to a fim de ficar sentada.
Caminhavam com as mãos nos bolsos conversando,Ângela começou a rir de algo que eles falavam,olhou para ele com um olhar diferente e o beijou...um beijo longo, e o cheiro dos seus cabelos,sua respiração....ficaram parados no meio da rua,como se o mundo inteiro tivesse parado.André a abraçou e eles continuaram caminhando.Pararam na esquina e ficaram conversando um tempo.Ele se sentia confiante,fumava seu cigarro e soltava a fumaça,pensando que as coisas podem dar certo,tudo pode estar bom,depende de como você está.O show ainda não tinha começado e o pessoal estava zanzando ali pela frente.André pensou em falar algo sobre eles,sobre ela,mas guardou pra si,não falou nada.Conversavam sobre a banda,a cena,os lugares,e bebiam cerveja,quando umas amigas de Ângela apareceram,estavam bem eufóricas,falavam sem parar,e ficaram um tempo todos bebendo e conversando.Ele observava as covinhas dela,a alegria em sem rosto,ás vezes a dúvida,a incerteza.Elas avistaram um grupo de amigos e Ângela foi com elas,olhou para trás para falar com André, e ele a puxou:
-Quer ir ali em casa?...É perto daqui,a gente pode ir ali,e depois volta.
-Não,agora não...mas a gente se fala daqui a pouco querido,eu vou ali com meus amigos,depois eu volto.
Ele ficou um tempo na rua,ouviu os primeiros ruídos de guitarra, e entrou no bar.Ja tinha bastante gente,e a banda começara a tocar.
O som tava alto e cheio,como rock´roll deve ser,ele tem que te envolver como um manto sonoro,para que você se sinta parte dele.
Ficou olhando pro baixo primeiro,prestando atenção na linha,e depois pra guitarra,e a música funcionava...andava,prendia a atenção.
Sentiu como se houvesse uma pureza naquilo, em toda a volta,a música realmente pode te fazer sentir muito bem,e como ela era importante para ele.Geralmente quando ia a lugares fechados,depois de um tempo,ele pensava em estar em outro lugar,ou fazer outra coisa,mas hoje se sentia bem,simplesmente os questionamentos haviam sumido.Pensou em como devia encarar isso..de som..de música..se dedicar...ele sentia,que aquilo era forte.Tocar,pelo simples fato de tocar...curtir,se divertir tocando.E todas as outras coisas que já pensou em fazer,enquanto bebia cerveja.Pensou em como se permitia que ele próprio se desacreditasse,não se achasse bom,e aquilo tudo era muito estranho,e o show acabou e começou a tocar som nas caixas.Pagou o que consumiu e foi indo embora.Andava em direção a porta quando a porta se abre e entram algumas pessoas...Ângela...
-Oi... e ae?
-Bah uma amiga minha passou mal e to ajudando ela,to indo embora levar ela.
-Ah...mas não tem como ela ir com outra pessoa,queria falar,ficar mais um tempo contigo.
-Não dá... é uma amigona..tenho que levar ela, mas eu te ligo menino.
Ela lhe deu um beijo rápido e foi embora.Ele saiu e começou a caminhar rumo a casa,olhando os muros cheio de cartazes de shows,olhando para seus sapatos gastos,como isso era tudo,e como ás vezes era como se ele não pensasse em nada.