Azul
Havia algo diferente. Era a Redenção, mas havia algo no ar e nas cores. A grama parecia mais verde, mais intensa. Na verdade havia diferenças. Tinha desníveis, que iam para baixo, com escadas, onde haviam mais quadras e muitas pessoas jogando. Ás árvores davam frutos dourados que brilhavam, e um velho sorriu pra mim enquanto comia uma dessas frutas, o suco da fruta viscoso escorria pela seu queixo. Não vi crianças, e as pessoas que estavam no parque estavam correndo e gritando.
Passei no prédio onde um amigo morava. Ele não estava. O porteiro estava vestido de terno preto, e fazia 37 graus na rua. Caminhei até a Protásio, na Goethe dobrei a direita e me vi na Paulino Teixeira, rua que já morei. Andei até o prédio aonde morei, e do bolso direito tirei uma chave. Entrei no prédio e fui até o 301.
Abri a porta, e o apartamento parecia como era antes, quando morava lá. A mesa de vidro no centro da sala, a geladeira no mesmo lugar, na cozinha. Fui até os quartos. Meu antigo quarto estava vazio, mas na sacada que dava pra rua ainda estava a rede, posta de um lado a outro. Na sacada fiquei olhando a rua. Crianças passavam, folhas caíam das grandes árvores e um vento leve passava. Não quis subir a escada até o segundo piso e saí do prédio. Peguei um ônibus não sei para onde. As pessoas pareciam muito sérias no ônibus. Mas de repente todos começaram a rir. Todos. Não havia uma pessoa no ônibus que não estivesse rindo, exceto por mim, que tentava entender o porquê. Não era de mim. Daí pararam de rir. O ônibus parou e desci. Estava longe de casa. Voltei a pé.
Subia as escadas do prédio e ouvi alguém cantar. Parecia a voz de meu pai, cantando algo em italiano. Em casa não havia ninguém. Um prato estava à mesa. Parecia uma carne, arroz e batata. Mas eram azuis. Comi.
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